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As
tarambolas-douradas e o maçaricão-esquimó ficaram duas semanas no Orinoco e
depressa voltaram a engordar. Milhares de outras narcejas povoavam as pradarias,
tarambolas que também tinham feito a longa viagem sobre o oceano, e ainda uma
dúzia de outras espécies que tinham voado sobre terra, através das planícies da
América do Norte e do istmo do Panamá. Aqui encontravam-se de novo, nos Llanos da Venezuela. Também havia
esplêndidas aves dos trópicos, que nidificavam nesta altura e alimentavam
zelosamente os filhos. Os ninhos das garças-brancas cobriam largas superfícies
dos pântanos, junto ao rio, e as garças eram tantas que se empurravam umas às
outras. A íbis vermelha, jóia das aves tropicais, voava em bandos ao longo das
margens, procurando alimento. De início, quando as íbis se aproximavam, pareciam
sombras cinzentas; ao passarem perto, inflamava-se-lhes a plumagem vermelha;
quando se afastavam, a cor desvanecia-se novamente.
Havia
comida em abundância e muitas das narcejas árcticas deixavam-se ficar por aqui.
Mas o maçaricão e as tarambolas, após duas semanas em que comeram e acumularam
gordura, voltaram a sentir o velho impulso que as empurrava para Sul. As outras
tarambolas já tinham partido. Tal como no Lavrador, o bando do maçaricão foi o
último a largar.
No
princípio de Outubro, numa noite clara de luar, levantaram voo e seguiram um
vale afluente do Orinoco, até ele se perder nas montanhas que separam as bacias
hidrográficas do Orinoco e do Amazonas. Então desceram um pouco e sobrevoaram o
vale de um afluente do Amazonas. Seguiram a estreita fita de água para Sul, e
tinham atingido o poderoso rio quando a manhã chegou. Deste lado do equador, os
ventos alísios sopram de Noroeste para Sueste. Para ter vento de lado, o bando
seguiu, durante a noite, a direcção de Sudoeste, em vez de se dirigir
directamente para Sul. Voaram 800 quilómetros, e ao romper do dia tinham à
vista os Andes peruanos, com os seus cumes cobertos de neve. Na orla sul da
zona dos alísios o vento soprava de Leste, e nas três noites seguintes dirigiram-se
para Sueste. À quinta manhã as aves estavam de novo magras e cansadas. Poisaram
nas Pampas argentinas, quatro mil quilómetros a sul dos Llanos da Venezuela.
A Primavera
tornara verdes o capim e os cardos gigantes, e havia gafanhotos aos enxames. As
aves comeram durante todo o dia, alimentando-se dos insectos nas ervas
rasteiras. Por vezes procuravam zonas mais fundas, onde o chão era pantanoso e
o capim crescia mais forte. Aqui viviam insectos aquáticos, que enriqueciam a
alimentação, tornando-a variada. E elas prosseguiam caminho frequentemente, sem
nunca fazerem longas etapas. Tinham perdido as rémiges maltratadas, as quais
deram lugar a outras novas. E em breve as asas ganharam de novo a sua antiga
força.
Estavam
agora a treze mil quilómetros de distância dos locais de nidificação no
Árctico. Para além delas, só os pernas-amarelas, pilritos-dos-prados e muito
poucas aves tinham empreendido tão longa viagem. No entanto o impulso
migratório continuava a empurrar o maçaricão e as tarambolas para Sul. Nas
noites claras, quando fortes ventos de Oeste varriam as Pampas, criando boas
condições de voo com vento lateral, o bando atacava de novo os ares. Horas
depois estavam duzentos ou trezentos quilómetros mais a Sul, e por um momento
acalmava a sua inquietação. O maçaricão conduziu o seu bando até ao cimo de uma
colina enluarada. As tarambolas seguiram-no e esperaram aqui pela manhã.
(Cont.)