(...) Em Dezembro de 1917 os operários metalúrgicos cruzaram os braços e fizeram uma manifestação nos boulevards. Os filhos dos communards tinham reconhecido a inutilidade do banho de sangue para onde os empurrara a classe governante. A acerba desilusão com "os milhões de vidas sacrificadas por nada fez recair a cólera dos responsáveis morais pela hecatombe, sobre aqueles que a tinham previsto". Os censores redobraram de esforços para obstar a que o povo conhecesse toda a extensão do horror. Nas cidades, clamorosos cartazes advertiam toda a gente contra as intrigas sinistras dos pacifistas, dos agentes inimigos, do ouro estrangeiro, e também contra os emissários da extinta Internacional do Trabalho. Impunha-se silêncio às multidões. Lutem calados! Não raciocinem, matem! (...) Organizaram-se fábricas de mentiras, e elas levaram as universidades no arrastão. Sábios e intelectuais, escritores e homens de púlpito, todas aqueles que deviam amar a verdade pela própria verdade, puseram-se a uivar em uníssono com a matilha. Os homens abriam mão das suas convicções tão facilmente como das suas vidas.O livre exame, a independência de juízo, a piedade humana - tudo isto foi dobrado e guardado com naftalina para quando acabasse a guerra. Aboliu-se a crítica, proscreveu-se a consciência. O cristianismo repudiou o seu próprio nome, perfilhando Marte. (...)
[Estes Dias Tumultuosos, Pierre van Paassen, 1946]