«(...) Enquanto os olhos do mundo se fixavam em Genebra, onde prosseguiam os debates intermináveis (que falavam de paz e desarmamento), poucos percebiam que, de 1925 em diante, os delegados da indústria pesada francesa e alemã se encontravam regularmente, ora em Paris, ora em Berlim. Tanto a indústria metalúrgica alemã como a francesa sofriam grandes prejuízos em consequência da suspensão dos contratos de armamento, e em desespero buscavam meios de dar um novo impulso aos negócios. Isto não se podia fazer sem uma colaboração íntima. Em Maio de 1925 Arnold Rechberg, consultor dos trusts de Hugenberg e Thyssen para as relações públicas, veio a Paris propor o equipamento pela França de um exército alemão de 800 mil homens, que devia marchar sobre a Rússia e destruir o regime bolchevista. O marechal Foch e o presidente Poincaré receberam o emissário alemão em companhia de Robert Pinaud e Charles Laurent, directores do Comité des Forges, o trust francês do aço.
Ao cabo de vários dias de negociações, François Coty anunciou triunfante no seu jornal, Figaro, que Poincaré tinha aprovado um plano para estabelecer o condomínio franco-alemão sobre o vasto mercado russo. (...) O plano foi inutilizado por Lloyd George, que temia a extensão da influência francesa na Europa. Mas já se havia estabelecido o contacto entre os fabricantes de canhões franceses e alemães. Nunca mais ele foi rompido. A indústria francesa consentiu no rearmamento da Alemanha já em 1925, como único meio de estimular o mercado interno francês. (...)
Paul Faure revelou no parlamento francês que Schneider-Creusot, o gigantesco trust francês de canhões, estava a fornecer fundos ao nascente partido nazi de Adolfo Hitler, e que Skoda, o trust checoslovaco de armamentos, abastecia a Alemanha de artilharia, pólvora e munições a crédito.
Por que razão iria Hitler receber dinheiro francês, checoslovaco e inglês? A resposta é simples, basta ler o livro do Führer, Mein Kampf. O chefe do partido em ascensão anunciava que o seu primeiro empenho, ao conquistar o poder, seria o de rearmar o Reich. (...) As fábricas de armamentos em toda a Europa andavam ao léu, os dividendos evaporavam-se, as cotações da bolsa baixavam cada vez mais. E não se avistava no horizonte uma só nuvem que desse algum impulso à mortífera indústria das armas. Não seria um favor do céu, se Hitler alcançasse o poder e tornasse a Alemanha novamente perigosa?»
[Estes Dias Tumultuosos, Pierre van Paassen, Lx 1946]
(Entre ontem e hoje, só o voo das moscas é que mudou!)