De Swyn, no Tejo, no barco holandês Neptuno
Para Q. no Campo Grande
2 de Novembro
Ontem de manhã estava eu a dormir profundamente, pois na noite anterior não tinha pregado olho com as dores da gota, quando, de súbito, fiquei tão assustado com os abalos da minha cama e com a queda dos quadros, que saltei logo da cama. de tal modo que não senti mais dores, com um pânico tão grande. (...)
Mas não sabia para onde devia fugir. Finalmente vi a margem do rio; e como havia lá muita gente, corri para lá. (...) O mestre do barco partiu e levou-nos para bordo do Neptuno. Quando eu lhe disse para quem trabalhava, ele deixou-nos subir.
Mal tinha entrado a bordo, veio um tão forte abalo que parecia que o barco ia sumir-se no abismo. O barco foi atirado ao ar, tão alto como uma torre. (...) Não víamos mais ninguém na margem, mas notámos que um espaço de 100 por 50 passos se tinha afundado, no que terão perdido a vida muitas pessoas. (...)
À noite, o fogo na cidade era horrível de ver. E às 9 horas, quando a alfândega e o palácio real se incendiaram, parecia chover fogo, ou parecia nevar faúlhas incandescentes. (...) Agora estamos aqui e vemos a miséria da cidade, toda em fogo. No barco há mais de 100 pessoas. (...)