(Cont.)
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De Q. no Campo Grande
Para Busch, em Lisboa
1 de Novembro
Esta manhã, às 09H00 (...) ouvi um grande estrondo; e, como o tinha convidado a si e a outros amigos para almoçar, pensei que alguém andaria a pôr em ordem a mesa na grande sala do andar de cima (...). O ruído tornou-se maior, e pareceu-me que um animal ou um cão maluco tinha entrado em casa e andava aos pulos no 2º andar. (...)
Aproximei-me da janela, por onde subi, e vi a minha mulher, o meu filho e a criada, de joelhos, em grande pânico. A minha pobre mulher tinha caído das escadas; ela está em adiantado estado de gravidez, e não sei se o medo ou a queda lhe provocaram tais dores nas costas que não podia andar. (...)
Várias casas vizinhas estavam no chão, e noutras tinham caído paredes. (...) Seguiu-se depois um outro abalo bastante forte, que não durou muito, mas que acabou com alguns muros. A minha mulher ficou muito aflita quando mandei aparelhar o cavalo para ir à cidade, pois não estava descansado enquanto não soubesse como estavam as coisas na nossa casa. (...) Por um lado eu queria ser carinhoso com ela, e por outro queria salvar os meus haveres. (...)
Ele contou-me que a desgraça na cidade ainda era maior, e que não me seria possível deslocar-me à minha casa, nem a cavalo nem a pé. Que as ruas estavam intransitáveis e cheias de entulho das casas caídas e aquelas que não tinham caído estavam tão abaladas que seria perigoso passar nas ruas (...).
Se a minha presença for necessária, vou imediatamente para a cidade.
(Cont.)