«(...) Parece-me estar vendo a cena da chegada de Brüning, na Gare du Nord. Era a primeira vez que um estadista alemão pisava as calçadas da capital francesa, depois da humilhação de Versalhes. A estação estava negra de povo, todos ávidos de ver a delegação alemã. (...) Subitamente rompe o grito: Vive l'Alemagne! Vive la paix! Vive la fraternité humaine! (...) O chanceler alemão, de todo surpreendido, retribuíra gravemente a saudação. Vi os olhos de Brüning marejarem-se de lágrimas. (...)
Ante a iminência de uma catástrofe geral no Reich, de um desastre económico e financeiro de terrível gravidade, o chanceler de um dos primeiros estados europeus tinha vindo pleitear a causa do Reich com Mr. Pierre Laval. "Foi um acto de desespero, talvez leviano, completamente inesperado, e contudo um acto de coragem e de grandeza" - como disse na ocasião Jean Richard Bloch, no Europe. O povo tinha os mesmos sentimentos, e o instinto das massas raramente se engana. (...)
O chanceler expôs as suas ideias e instou durante duas horas com o ministro dos negócios estrangeiros. Quando viu que não lograva abrandar o coração do francês, caiu de joelhos. Falou da miséria do seu país, da juventude alemã desiludida, do negro desespero da situação, se a França não aliviasse a sua vizinha de alguns dos fardos impostos em Versalhes. Preveniu Laval contra uma derrocada económica, que podia, pelas suas repercussões, arrastar outros países, inclusive a própria França, para um sorvedouro caótico. Mencionou as "forças sinistras" que se preparavam para se arrojar sobre a Alemanha, se ele, Brüning, falhasse. (...)
Laval negou-se a estender a mínima palha de salvação. (...)»
[Estes Dias Tumultuosos, Pierre van Paassen, Lx 1946]