Numa madrugada como a de hoje, há uns trezentos anos, nasci eu. A aparadeira deu-me um pontapé no rabo e dizem-me que berrei.
Quando apareceu a manhã, foi o meu pai a casa do Zé Barbeiro, que vendia marrã. Para festejar a efeméride.
Passados uns dias abri os olhos e trouxeram-me à rua. Como a minha mãe não tinha leite, nem havia os sucedâneos de hoje, fui mamar ao peito da vizinha, que o tinha disponível e abundante.
Não lembro a que é que me soube. Só depois disso me levaram à janela e vi a encosta, que ainda hoje além está.
Peregrinei durante trezentos anos por esse mundo de Cristo, e um dia soube o que isso da marrã era. Provei-a num restaurante e não gostei. Não era a do Zé Barbeiro...
Hoje é na Lapa que vivo, é onde espero acabar. E não desejo outra coisa.