Todo o santo dia corre numa peregrinação por lugares predilectos: a escamungada do Côa, Escalhão, Barca d'Alva, Freixo-de-Espada-à-Cinta, a Congida e o Mazouco, que tem lá dois cavalinhos há 18 mil anos, com enseada privativa no Douro Internacional.
Volto a casa ao fim da tarde, o carro a abarrotar de laranjas excelentes da quinta do Antunes. As cadeias de distribuição põem na manjedoura dos consumidores indígenas os sub-produtos da Suláfrica, da Argentina, da Andaluzia. É para eles uma questão de mercado, o resto é pura conversa e assim vivemos. Porém os leoneses de Vitigudino compram-lhe quantas tiver, basta levar-lhas.
Se uma patrulha qualquer de parasitas da guarda me tivesse abordado, estava metido em trabalhos. E encontrei uma dúzia numa estrada, cada um deles ocupado com um motorista futrica. Lá escapei, neste país de equívocos.´
O Antunes tem posições muito próprias sobre o império das Índias, e os políticos, e a pátria e tudo isso. Eu entendo e não me interessa questionar, porque não sou missionário. Esteve ao serviço no Estado da Índia, onde andou nas informações da Pide, antes de o Nehru ter invadido Goa. Por isso não passou pelos campos de prisioneiros, em que muitos portugueses penaram longo tempo. Nada lhe diz a figura do Vassalo e Silva, que ousou discordar do Botas de Santa Comba, e pagou por isso um alto preço.
Nessa altura já ele estava ao serviço da mesma Pide, em Moçambique. E quando regressou a Portugal comprou esta quinta na Congida. Os indígenas locais viviam na miséria, não tinham unhas para ela. Ou tinham fugido para a Europa a reconstruir países, afastados duma terra onde tudo estava por fazer. Plantou-a de laranjeiras e oliveiras, de que faz óptimo azeite. E assim ficou redimido.