Quando perdi o meu bastão de almirante - que uma sociedade de cidadãos me teria restituído - dei ao demo um objecto de grande estimação e um apoio fundamental para evitar quedas na rua. Foi por isso que adoptei um apoio metálico que não quero dispensar. Nos passeios escalavrados das nossas ruas e nos pavimentos esburacados de algumas localidades, uma queda é coisa que não me agrada.
Fui ao banco e deixei a viatura num dos lugares reservados a cidadãos condicionados. Não tardou que uma viatura de agentes do trânsito não tivesse estacionado a emboscar-me. Estes parasitas estão encarregados de emboscar os cidadãos responsáveis e justificam-se com isso. É-lhes indiferente tudo o resto: os irresponsáveis que usam faróis desregulados, os que andam de dia com a farolada toda iluminada, e aqueles que saem do nevoeiro sem uma lâmpada acesa. Os parasitas desconhecem tudo isso, não é a função que têm atribuída.
Saí do banco e lá estava o parasita à minha espera. Aparece ao meu lado, olha para mim com cuidado, e diz-me que posso pedir ao médico um atestado das minhas limitações afixado no vidro.
Apetece-me mandá-lo bardamerda e não o faço, prefiro um silêncio mais consensual. Desta vez lá me escapei. Saúdo o parasita e vou à vida.