[peça antiaérea russa, usada pelo PAIGC]
«(...) Desde o início da guerra que o apoio prestado pela FAP apenas conhecia como limites a sua disponibilidade em meios humanos e/ou materiais ou, como muitas vezes sucedeu, as condições meteorológicas. Na Guiné, o apoio aéreo nas suas diferentes modalidades, era fundamental e, muitas vezes, taticamente decisivo. Por outro lado, a capacidade de as aeronaves detectarem o inimigo e poderem atacá-lo, de imediato ou depois de um reconhecimento fotográfico, ficou bem marcada, durante o ano de 1968, quando surgiram as primeiras armas antiaéreas, mais exactamente no Quitafine, que o inimigo já anunciava como "zona libertada”.(...) Os guerrilheiros usavam então metralhadoras múltiplas ZPU 14,5mm, instaladas em espaldões em forma de caracol. Nesse ano, foi atingido com fogo antiaéreo o comandante do Grupo Operacional da BA 12, Tenente-Coronel Costa Gomes, que saltou em pára-quedas e foi recolhido perto de Aldeia Formosa. Fiquei com a impressão – por ter ouvido as comunicações rádio – de que armas antiaéreas eram atacadas e destruídas uma a uma, pelo então Capitão Jesus Vasquez e cheguei a ver as fotos antes e depois do ataque, a uma delas. (...)
Se as metralhadoras antiaéreas, pela sua pouca mobilidade, eram armas essencialmente defensivas, os mísseis portáteis, de guiamento passivo, tinham características que permitiam ao PAIGC passar à ofensiva. O Strela era um míssil portátil, podendo por isso acompanhar qualquer grupo de guerrilheiros em deslocamento apeado, de manejo fácil e quase intuitivo, por combatentes pouco letrados e que não necessitava de qualquer acção depois do disparo. Esta circunstância poderá, de certo modo, explicar o relativamente baixo rendimento tirado do Strela (36 disparos para atingir 6 aviões) e o facto de os primeiros dois disparos terem tido origem junto à fronteira Norte faz supor que tenham sido levados a cabo por conselheiros estrangeiros. (...)
No caso em apreço, um guerrilheiro decidido e moralizado, embora quase analfabeto, só teve que aprender a usar uma arma feita de acordo com as suas características psicofísicas, para com ela destruir uma máquina caríssima – no nosso caso “paga a peso de ouro” – de produção lenta e, principalmente, operada por um técnico cuja formação e evolução técnica-literária é muito considerável e obtida através de um demorado processo de formação. Estamos também perante uma vantagem que os guerrilheiros conseguiram obter com relativa facilidade e, como habitualmente, a custo zero.(...)
O passo seguinte seria algo que se previa, também de há muito: o “fornecimento” de aviões MIG 17 ao PAIGC, operados por pilotos estrangeiros. Nunca chegou a ser dado, mas o “número de sobrevoos não autorizados” não parava de subir, em todos os documentos de informações recebidos nas unidades e não nos esqueçamos do Antonov que apodrecia na placa da BA 12, com os distintivos da Guiné Conacri (que nunca o reconheceu como seu) depois de ter aterrado, por engano, em território da Guiné Bissau.(...)
Por mim creio que perdemos 9 homens e 5 aparelhos em 10 dias, por termos subestimado a possibilidade de o inimigo poder obter e utilizar a arma decisiva e assim virar uma página no conflito.»