terça-feira, 3 de março de 2015

Passarões

Por formação ou por ingenuidade (quando não por ambas juntas), somadas àquele instinto natural de sobrevivência (quem me valerá se não houver justiça!), o cidadão comum tende a ficcionar, na silhueta do juiz genérico, a gravidade austera, a clarividência, a equidistância, a imparcialidade, o apego à lei e o saber, que se abrigam na majestade das togas. O ritual cultiva essa ficção, já que a figura é sempre a do meretíssimo, e as sentenças que produz invariavelmente doutas.
Será o caso da maioria deles, isso não se põe aqui em dúvida. Mas num mundo cada dia mais relativista e lasso, mostra a experiência que a vida anda cheia de passarões
No tempo da outra senhora não havia tribunais plenários, esses excelsos lugares de pura iniquidade?! Não eram eles presididos por meretíssimos, abrigados na majestade da toga?! Não produziam eles doutíssimas sentenças?! 
É que o poder de um super-qualquer coisa, ainda por cima não referendado, invarivelmente corrompre ou ensandece. Ao cidadão convém ter isso em conta.