sábado, 14 de março de 2015

"Vamos por partes"

« (...) A Grécia foi atacada em 1940 pela Itália de Mussolini. Rechaçado o ataque, Hitler invadiu o país na Primavera de 1941 e tratou os gregos como tratou jugoslavos, polacos, soviéticos, isto é, com a brutalidade devida aos untermenschen, os sub-humanos, fazendo-os sofrer muito mais, por exemplo, do que sofreram franceses, escandinavos, belgas, holandeses — 560 mil gregos morreram na guerra, 7% de toda a população, um número muito superior, por exemplo, ao das vítimas francesas, um país com seis vezes mais habitantes. Entre elas, não mais de 17 mil eram militares. A Grécia, como toda a Europa ocupada pelos nazis, foi dos países onde os civis pagaram o preço mais pesado da guerra (...). (...)
Entre 1959 e 1964, quinze anos depois do fim da guerra, a RFA assinou acordos com doze países ocidentais, entre os quais a Grécia, governada por uma monarquia autoritária quase tão embaraçada na negociação quanto o Governo de Bona. A repressão nazi na Grécia havia-se abatido principalmente sobre a Resistência comunista, a mesma contra a qual os monárquicos gregos combateram depois, na guerra civil de 1944-49, na qual o apoio de britânicos e americanos foi decisivo. Não admira, portanto, que o Governo grego, aliado da RFA na NATO, não se tivesse empenhado em fazer reconhecer os seus direitos... O fim da Guerra Fria, a reunificação alemã de 1990 e, sobretudo, a aproximação da morte para os poucos sobreviventes que restavam dos milhões que haviam sido deportados para os campos de extermínio e de concentração, ou dos milhões que haviam sido usados como escravos ao serviço da indústria alemã, abriu caminho a novas negociações nos anos 90, envolvendo valores comparativamente simbólicos, de que os gregos, contudo, pouco beneficiaram. (...)
A iniciativa do Governo grego é até perfeitamente subsidiária: é verdade que Atenas quer voltar a discutir um “empréstimo” que o ocupante alemão subtraiu dos cofres gregos durante a guerra, em 1942, e que nunca foi devolvido, mas é sobretudo uma sentença do Tribunal Supremo grego, de 2000, que irrita os alemães. A justiça reconheceu, então, o direito dos descendentes de vítimas do massacre perpetrado pelas Waffen SS na aldeia de Distomo, em 1944, matando 218 pessoas, a receberem uma indemnização, fixada em 28,6 milhões de euros, a cargo do Estado alemão. Perante a recusa alemã em pagar, o Supremo exigiu ao Governo que expropriasse bens alemães na Grécia. Querendo evitar enfrentar Berlim, o Governo não o fez. (...)»
[Manuel Loff, in PÚBLICO]