« (...) A Grécia foi atacada em 1940 pela Itália
de Mussolini. Rechaçado o ataque, Hitler invadiu o país na Primavera de 1941 e
tratou os gregos como tratou jugoslavos, polacos, soviéticos, isto é, com a
brutalidade devida aos untermenschen, os sub-humanos, fazendo-os sofrer muito
mais, por exemplo, do que sofreram franceses, escandinavos, belgas, holandeses
— 560 mil gregos morreram na guerra, 7% de toda a população, um número muito
superior, por exemplo, ao das vítimas francesas, um país com seis vezes mais
habitantes. Entre elas, não mais de 17 mil eram militares. A Grécia, como toda
a Europa ocupada pelos nazis, foi dos países onde os civis pagaram o preço mais
pesado da guerra (...). (...)
Entre 1959 e 1964, quinze anos depois do fim da guerra, a
RFA assinou acordos com doze países ocidentais, entre os quais a Grécia,
governada por uma monarquia autoritária quase tão embaraçada na negociação
quanto o Governo de Bona. A repressão nazi na Grécia havia-se abatido principalmente
sobre a Resistência comunista, a mesma contra a qual os monárquicos gregos
combateram depois, na guerra civil de 1944-49, na qual o apoio de britânicos e
americanos foi decisivo. Não admira, portanto, que o Governo grego, aliado da
RFA na NATO, não se tivesse empenhado em fazer reconhecer os seus direitos... O
fim da Guerra Fria, a reunificação alemã de 1990 e, sobretudo, a aproximação
da morte para os poucos sobreviventes que restavam dos milhões que haviam sido
deportados para os campos de extermínio e de concentração, ou dos milhões que
haviam sido usados como escravos ao serviço da indústria alemã, abriu caminho a
novas negociações nos anos 90, envolvendo valores comparativamente simbólicos,
de que os gregos, contudo, pouco beneficiaram. (...)
A iniciativa do Governo
grego é até perfeitamente subsidiária: é verdade que Atenas quer voltar a
discutir um “empréstimo” que o ocupante alemão subtraiu dos cofres gregos
durante a guerra, em 1942, e que nunca foi devolvido, mas é sobretudo uma
sentença do Tribunal Supremo grego, de 2000, que irrita os alemães. A justiça
reconheceu, então, o direito dos descendentes de vítimas do massacre perpetrado
pelas Waffen SS na aldeia de Distomo, em 1944, matando 218 pessoas, a
receberem uma indemnização, fixada em 28,6 milhões de euros, a cargo do Estado
alemão. Perante a recusa alemã em pagar, o Supremo exigiu ao Governo que
expropriasse bens alemães na Grécia. Querendo evitar enfrentar Berlim, o
Governo não o fez. (...)»
[Manuel Loff, in PÚBLICO]