terça-feira, 1 de julho de 2008

Negreiros

(...) Dois ciganos de Guimarães prometeram-me 40 € por dia. E eu comecei em Saragoça, a fazer paletes de madeira, a 20 € por semana. No pagamento descontavam-me os cigarros e eu não andava contente. Passado um ano encontrei um dos ciganos, levou-me para uma aldeia às apanhas da fruta. O patrão prometia 20 € à diária. O pior veio depois, que se virava contra nós à porrada, se não trabalhávamos como ele queria. Eram murros e estaladas. Estavam lá mais dez homens da zona de Coimbra, fui eu o último a fugir. Levei pancada por querer ir embora, acabei sem dinheiro nenhum. Saí de madrugada, de sapatos na mão, meti-me à estrada e andei 30 quilómetros. De manhã pedi boleia a uns camionistas, sem eles não me safava. Aquilo é uma escravidão. (...)

Espanha e Holanda são dois dos principais destinos desta emigração, aliciada as mais das vezes por agentes ciganos. E a coacção física é muitas vezes usada por outros portugueses radicados no destino. Mas já ninguém faz as viagens de barco, estendido e amarrado no porão. Pormenor a resgatar da vergonha os que mandam no país, se há muitos séculos a não tivessem perdido.