Estranho muitas vezes a cidade, ou ela me convida à sedição. Por feitio ou por fadário não tenho muitos amigos, e os poetas que aprecio já morreram. Faço a vida um tanto solitária, e vou considerando o mundo à distância a que está. Arruadas de gente a esbracejar paixões, famílias inteiras na romaria do shopping, pracetas de reformados a discutir um trunfo.
Às vezes põe-se-me a ganir o instinto gregário, claudica-me a rebeldia, oiço claramente ladrar a solidão. E é quando vou, na esperança duma voz compassiva, à procura dum ouvido confidente. Chego a andar centenas de quilómetros.
Não raro encontro só ególatras eufóricos, e umbigos ensimesmados, e náufragos em procela.
Logo me volto a casa apaziguado, a agradecer o meu silêncio aos deuses.