Se o dólar perdesse o suporte do petróleo
o império americano deixaria de existir
Um estado-nação cobra impostos aos seus próprios cidadãos, enquanto que um império cobra impostos a outros estados-nações. Desde os Gregos e Romanos, aos Otomanos e Britânicos, a história ensina que a base económica de qualquer império radica na cobrança de impostos a outras nações. (...)Historicamente a cobrança de impostos a um estado-súbdito tomou diferentes formas. Geralmente ouro e prata, mas também escravos, soldados, colheitas, gado e outros recursos naturais. E os impostos imperiais foram sempre directos: o estado submetido entregava os bens económicos directamente ao império.
Neste momento, o presidente americano G. W. Bush já reconhece que não disse a verdade sobre as verdadeiras razões que o levaram à guerra no Iraque. Não foram nem o petróleo, nem as armas que ele sabia não existirem, nem a democracia que lhe não importa um chavo, nem sequer acabar com Saddam, que ao fim e ao cabo era um travão à expansão islamita para ocidente. A verdadeira razão é que a economia do império americano estava em grande perigo, devido ao facto de o Iraque ter decidido vender o seu petróleo em euros, em vez de dólares.
Quando o presidente Roosevelt, depois da grande depressão de 1929, desvinculou o dólar do padrão-ouro, abriu a porta ao império do dólar, estabelecido como divisa única. Isto permitiu a emissão de dólares sem contrapartida em reservas de ouro. Como consequência, os americanos têm beneficiado da emissão livre de dólares, como no caso do financiamento da guerra do Vietnam. Na realidade os Estados Unidos nunca poderiam amortizar a gigantesca emissão de dólares com reservas de ouro, donde resultaria a bancarrota do estado americano. Os restantes países têm assim estado sujeitos a um imposto imperial, em benefício dos EUA. Forçados a dar uma razão ao mundo, forjaram essa razão com os pagamentos do petróleo.
Se todos os países pagassem o petróleo em euros
o sistema financeiro americano iria à bancarrota
À medida que se tornava claro que os seus dólares não poderiam ser amortizados em ouro, o governo dos EUA fez um acordo inflexível com a Arábia Saudita, em 72/73: em troca de apoiar o poder da Casa de Saud, esta aceitaria unicamente dólares americanos nas suas transações de petróleo. O resto da OPEP não pode senão imitar essa atitude. Uma vez que os países tinham que comprar petróleo aos árabes, eis uma razão para possuir dólares como meio de pagamento. O mundo necessitava de quantidades de petróleo cada vez maiores, a preços crescentes. E os dólares não podiam trocar-se por ouro, mas trocavam-se por petróleo. Assim se consolidaram como divisa, aumentando a procura de dólares à medida que crescia a do petróleo. O império continuava assegurado.
O Iraque fez as primeiras transações de petróleo em euros, e não se deu a isso grande importância. Mas quando o Irão se propôs exigir pagamentos em euros e ienes, soou o alarme. O império estava em perigo, e o Iraque pagou pela sua ousadia. Apesar do prolongado pesadelo da guerra do Iraque, Bush pôde declarar que a missão estava cumprida. O petróleo era de novo pago em dólares, e a sua supremacia fora restaurada.
O governo do Irão desenvolveu finalmente a última arma que, não sendo nuclear, pode destruir rapidamente o sistema financeiro que sustém o império americano: a Iranian Oil Bourse. Baseada num mecanismo de comercialização petróleo-euro, implica pagamentos em euros. Isso representa uma ameaça à hegemonia do dólar, maior que a de Saddam. Pois se todos os países efectuarem pagamentos em euros, o sistema americano irá à bancarrota, por não poder amortizar em ouro a avalanche de dólares devolvidos. (...)
Não é verdade que haja escassez de crude no mercado, nem que se esteja a produzir menos. (...) Os próprios EUA continuam a consumir petróleo como nos bons tempos - 20 milhões de barris diários, enquanto a China consome sete. Neste estado de coisas, é difícil adivinhar um ponto máximo de inflexão dos preços.
(Texto-base de Marcelino Cuéllar)
- Os EUA não podem aceitar a Iranian Oil Bourse.
- Os EUA julgam que não podem aceitar o programa nuclear do Irão.
- Os EUA não podem atacar o Irão, pois se o fizerem privam o mercado dos 4 milhões de barris diários que ele produz, e põem em risco os 17 milhões que passam no estreito de Ormuz.
- Enquanto sim e não, os EUA mandam um sub-secretário à reunião de Genebra, a discutir o enriquecimento do urânio. Dizem que levam o assunto muito a sério, e enviam-nos a conta para a caixa do correio.