Nos anos de 85 e 86 estava eu em Angola. E às vezes via passar, nas ruas de Luanda, o autocarro espanhol, que levava à escola os meninos de Espanha. Outras vezes cruzava-me, nas ruas de Luanda, com o autocarro italiano, que levava à escola os meninos de Itália. Mas nunca vislumbrei, nas ruas de Luanda, o autocarro português. Vim a saber depois que não fazia falta, já que então não havia uma escola para os meninos de Portugal. Isto apesar de a escola portuguesa ser o lugar natural que aguardavam os meninos duma certa elite angolana.
Primeiro eu ficava perplexo, depois acabei revoltado, e mais tarde esqueci-me de tudo. E só voltei a lembrar-me da questão, quando há dias ouvi uns governantes a fazer juras de amor à língua portuguesa. É desta vez que apostam finalmente na sua defesa e valorização, com eloquentes trombeteios.
A ideia há-de parecer edificante, porém não passa duma intenção piedosa. Pois quem desleixa cautelas premiadas, só lhe resta apostar em rifas brancas.