sexta-feira, 30 de junho de 2017

Do 1º livro de crónicas do Lobo Antunes, 1995

" Porque são os domingos tão compridos, Filomena? Não tenho que estar às nove na Companhia, não tens de estar no infantário às oito e meia, levantamo-nos mais tarde, tomamos o pequeno-almoço no café, compramos os jornais, alugamos dois filmes no clube vídeo, ninguém dá ordens, ninguém nos exige nada, ninguém nos aborrece, e no entanto porque são os domingos tão compridos, Filomena, por que motivo é sempre a mesma hora no relógio, porque razão me apetece tanto qualquer coisa que nem sei o que é em vez de ficar contigo?
Eu que gosto de ti, palavra que gosto de ti, eu que devia sentir-me bem e não me sinto, não é mal-estar, não é angústia, é uma sensação vaga, um desconforto, uma inquietação que não entendo, e todavia não me concebo sem ti, gosto da tua cara, do teu corpo, casei contigo por amor, porque são os domingos tão compridos, Filomena?