domingo, 18 de junho de 2017

A hecatombe por partes



1 - Escravos chinas
" (...) Macau tinha-se tornado, aliás, uma placa giratória no comércio de escravos (sempre com predominância do sexo feminino) e aí eram comprados e vendidos não apenas jovens chineses mas também outros que eram trazidos do Japão e de Timor.
Lavados à Índia, entre outros destinos, foi a partir de Goa a bordo das naus da carreira da Índia que alguns desses escravos foram embarcados para Portugal no séc. XVI. Mas continuaram a chegar durante os sécs. XVII e XVIII, apesar das proibições régias que procuravam interditar o transporte de escravos nesses navios. Os escravizados eram em geral trazidos por militares e altos funcionários régios que, uma vez em Lisboa, ou os mantinham na sua companhia ou os ofertavam, como prenda de prestígio, a amigos e superiores, ou simplesmente os vendiam a quem desse mais. (...)
Em 1730, Francisco de Melo e Castro, que vinha de Goa como capitão-mor da nau da Índia (nessa altura já era só uma nau que fazia a rota do Cabo) trazia consigo três jovens chineses. Morreu, no entanto, pouco tempo após a sua chegada a Lisboa, e arrolados os seus bens os jovens foram vendidos como escravos em leilão público, tendo tido destinos muito diferentes.
Agostinha, provavelmente a mais velha dos três, protestou, enquanto pôde, que era uma pessoa livre (de facto o tráfico de chineses estava formalmente proibido). (...)
O moço china Pedro foi comprado pelo padre Manuel Monteiro, do Rio de Janeiro, que estava de passagem por Lisboa. (...)
Finalmente a Domingas, vendida no mesmo leilão, perdeu-se-lhe o rasto, dizendo alguns que teria sido levada para o Alentejo.
Sem falar na atração sexual que as jovens chinesas despertavam, pelo misto de proximidade e exotismo, os escravos chinas eram considerados leais, inteligentes e trabalhadores. (...)
A maioria dos escravos chineses concentrava-se em Lisboa. Mas havia também escravos chineses noutros pontos do território, sobretudo no Alentejo. Em 1562, D. Maria Vilhena, rica proprietária de Évora, deixava no seu testamento, entre outros escravos de diversas origens, António, china azemel, uma espécie de almocreve.
Em 1771, Manuel Saldanha de Albuquerque, 1º conde de Ega, que tinha sido vice-rei da Índia, mantinha ao seu serviço, no seu palácio da Ajuda em Lisboa, vários escravos, entre os quais um escravo china.