Esta casa já foi da família do coronel Prata Dias, um barbaças antigo que apoiou o Gomes da Costa no 28 de Maio do século passado. Quando ele veio lá de Braga pôr Lisboa em sentido e a República na ordem. O coronel foi o primeiro responsável pela censura instaurada por tal tropa.
Agora é apenas a vivenda Dias. E deixou de ser propriedade inalianável do lar de São Sebastião, essa coisa que ninguém chegou a ver depois que apareceu dinamitada a casa branca. A placa que o dizia desapareceu entretanto.
O físico e o mental estão em consonância numa personalidade. E o Dias parece ter saído dum filme de mafiosos da Sicília. Baixote, metido no sobretudo, não enganava ninguém.
Criou-se aí, entre fomes, e foi parar a França no seu tempo. Mas não se gastou nas obras de Champigny. Fazia-se de correio que trazia para Portugal o salário que os colegas queriam mandar às mulheres. Muitas vezes era roubado no caminho, ao que fazia constar, o dinheiro é que nem sempre chegava às destinatárias.
Um dia regressou a Portugal e trouxe maquinarias. Vieram aí uns franceses à procura delas, mas não encontraram nada, que tudo estava em porto seguro. O mafioso instalou-se à beira-mar, montou negócios de extracção de areias, encalacrou a Volvo com maquinarias e calotes. E começou a comprar tudo o que aparecia à venda. Foi o caso da vivenda da família Prata Dias.
Quem então o visitava muito, a altas horas, era um escroque de Aguiar da Beira, que era ministro do biltre do Cavaco a quem fazia os discursos. O escroque vinha aí encharcar-se em conhaques raros, enquanto planeava investimentos ruinosos, ia à caça com o Bourbon de Espanha para os sertões e arruinava o BPN.
Quando se meteu na heroína da Colômbia, o mafioso mandava mulas a Paris, de comboio, a entregar encomendas. E quando a Judiciária meteu o nariz nisso, foi passar um tempo em África, a deixar amainar os ventos.
Agora ficou velho e achacado, e o futuro é incerto.