segunda-feira, 26 de junho de 2017

Feitiçarias


" (...) Florinda Maria, de origem angolana, farta de trabalhar e de ser surrada pela sua senhora, lembrou-se de fazer um feitiço que aprendera com o pai e com "umas pretas da sua terra". Fez um boneco de trapos negros, espetou-o com alfinetes, atou-o com cordas de viola e meteu-o dentro do colchão da dita sua senhora. Era a forma de lhe "condicionar a vontade, esperando torná-la mais amistosa no relacionamento. (...)
O escravo-copeiro Afonso de Melo valeu-se para isso do feiticeiro José Francisco que, depois de outras soluções sem sucesso lhe forneceu um bocado de um pau que devia mascar de manhã em jejum e depois cuspir no chão, no lugar onde o senhor viesse a pôr o pá esquerdo.
Domingos, escravo de João Costa Silva, recorria a meios mais pesados, tendo conseguido os favores do próprio demónio, com quem ia falar ao Vale de Cavalinhos, clássico lugar de encontro da feitiçaria lisboeta. (...)
A origem das bolsas de mandinga parece ser o território mandinga da Alta Guiné, islamizado no séc. XIII. A islamização, com a consequente valorização da palavra escrita, estará na origem da introdução de pequenos textos de carácter sagrado, escritos em árabe, num tipo de bolsa já antes utilizado como talismã pelas populações locais. (...)
Essa adaptabilidade foi, provavelmente, uma das razões do seu sucesso em Portugal, onde as bolsas de mandinga se tornaram populares não só entre escravos e forros africanos, mas também entre brancos livres. (...).