«(...) Ou seja, são os escritores subalternos, os animadores da televisão e os profissionais da idiotice impressa ou teledifundida, munidos de um vasto arsenal de instrumentos, que se tornaram os grandes mediadores. É através deles que se acendem as discussões políticas, ideológicas, culturais, à medida do exíguo espaço mental e da lógica do fait divers de onde nasceram. Por isso, parece que estamos sempre imersos numa tagarelice de
filisteus.
Esta guarda avançada colocou na sombra e em lugar recuado as elites universitárias das ciências sociais e humanas (as ciências exactas, por razões explicáveis, foram sempre avessas à “publicidade”, no sentido mais próprio do termo). Não é que a virtude e o saber estejam apenas desse lado. Longe disso, e devemos ser muito críticos em relação a qualquer reivindicação de superioridade e exclusividade vinda daí. Mas certamente que também não estão em exclusivo do outro lado, como parece o caso.
Há hoje um défice enorme, em Portugal, da palavra vinda do interior dos vários campos do saber, seja porque ninguém a quer ouvir, seja porque as condições adversas obrigaram a uma retracção. (...) »
[António Guerreiro, in Ipsilon]