Jerónimo de Sousa faz saber que o governo não é de coligação, mas de iniciativa do PS. E que o PCP tem o seu caderno de encargos a apresentar.
Por seu lado, Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP,*** diz que a central sindical quer influenciar a mudança de políticas. E que o novo Governo tem de cumprir “as promessas que fez”, por motivos simples e impolutos: elas não podem transformar-se em "enormíssimas frustrações". Quer dizer, um e outro andam por aí cheios de pressa, tomados de frenesi.
Ora o povo consciente, que à sua custa aprendeu, e é menos menos ilustrado e previdente do que um comité central inteiro, também tem a apresentar o seu par de minudências.
À primeira será, que ainda não lhe esqueceu um Cesarão de bigodes, que também era do comité central dos apressados, aqui há uns anos atrás. Desceu ele a Avenida triunfal à frente duma legião de professores tomados de frenesi, que depressa dizimaram uma ministra-sinistra que aí andou, e ousou avaliar os docentes das escolas. Todos eles acabaram, os coitados, nos açougues do Crato, com as perninhas atadas num barbante. Porque antes disso foram às eleições e esquivaram o voto no PS de Sócrates, oferecendo pro bono o anel do casamento em que o Relvas e um comité central de suicidas alegremente juntaram os trapinhos. O Cesarão de bigodes preservou-se, e entrou em modo silencioso na última fila do comité central, à espera de melhores dias.
À segunda, e muito curta, o povo consciente quer lembrar que até hoje não ouviu do comité central aquilo a que se acha com direito. É um leve murmúrio de autocrítica, verdadeiramente digna e justa, razoável e salutar, para poder absolver do crime o comité central inteiro.
À terceira é, curto e grosso: aproveite o comité central esta benesse da liberdade que está ao seu dispor, e também se alimenta dos contributos dele, que tão arredios andam desde há muito.
E por fim, à derradeira, aquele pouco que toda a gente sabe: ainda ninguém cortou a cabeça da hidra, que tem muitas. Hércules, é sabido, entrou de folga a tempo. E só este governo do Costa o poderá fazer. Caso falhe a estocada, não há sobreviventes. O Costa será o primeiro pitéu, o PCP é a segunda presa, e nós todos seremos a sobremesa.
[Texto reeditado]
*** [Já chega, foda-se! Estou farto, desde há 40 anos, de aturar aventureiros incendiários e tomados de pressa!
JORNALISTA- O facto de este Governo ter o apoio parlamentar do PCP, partido que tem uma visão semelhante a essa, dá-lhe garantias de que isso se vai concretizar?
ARMÉNIO CARLOS- As garantias são as que vão ser determinadas pelo rumo dos acontecimentos e pela intervenção e pela força popular. Este Governo precisa de perceber que estamos cá
não para criticar por criticar, nem para protestar por protestar. E tem a obrigação de ter em consideração que a expressão do voto de 4 de Outubro foi no sentido de pôr termo a um governo do PSD-CDS, à política de austeridade e afirmar um real sentido de mudança em
relação ao futuro. Não vemos neste Governo um adversário, vemos um governo que tem de concretizar as promessas que fez. Uma mudança de política corresponde objectivamente a uma melhoria das condições de vida e de trabalho da população, a uma mais justa distribuição de riqueza, a mais e melhor emprego, a melhores
salários e pensões, e a uma defesa das funções sociais do Estado. (De entrevista ao PÚBLICO)