«Na leitura de Rui de Pina, D. Dinis "fez quase de novo" todas as vilas e castelos de Riba de Odiana: Serpa, Moura, Olivença, Campo Maior, Ouguela, Monforte, Arronches, Portalegre, Marvão, Alegrete, Castelo de Vide, Borba, Vila Viçosa, Arraiolos, Evoramonte, Veiros, Alandroal, Monsaraz, Noudar, Juromenha, Redondo, Assumar, e a torre e o alcácer de Beja.
Na Beira e Riba-Côa fez de novo os castelos de Avô, Sabugal, Alfaiates, Castelo Rodrigo, Vila Maior, Castelo Bom, Almeida, Castelo Melhor, Castelo Mendo, São Félix dos Galegos, Pinhel e o seu castelo.
Em Entre-Douro e Minho e Trás-os-Montes cercou Guimarães, Braga, Miranda do Douro, Monção, Castro Laboreiro, Vinhais, Vila Flor, Alfândega, Mirandela, Freixo de Espada à Cinta, Vila Nova de Cerveira. Ergueu do primeiro fundamento Vila Real. (...)
Podemos afirmar que Rui de Pina pecou por defeito (...). No seu tempo, até os lavradores dos clérigos e os próprios clérigos trabalharam e pagaram para esta obra imensa de reorganização, povoamento e defesa do território. (...)
Donde vieram os recursos para estas reconstruções civis e militares? A mobilização intensa e tributária da mão-de-obra ajudou, mas não explica tudo. A estas despesas acresceram os enormes gastos em viagens de representação diplomática e em incursões militares. Apesar disso emprestou avultadas quantias em dinheiro ao cunhado aragonês e ao genro castelhano e financiou com um empréstimo a companhia que iria explorar na costa de Sines a captura de atuns e de golfinhos. Adiantou o pagamento duma dívida de Lisboa aos mercadores de Pistoia.
Afonso III não deixou o tesouro vazio, mas seu filho soube ampliar as receitas. (...) Os tecidos do Norte da Europa não entravam apenas pelos grandes portos. Em 1287 D. Dinis concedeu à rainha Isabel a isenção de direitos das cousas que entrarem por Selir, (Salir?) menos os panos de cor, as armas miúdas, o ouro, a prata, a pimenta, o açafrão, o ferro tirado, o aço, o chumbo, o estanho e o cobre, que pertencerão ao rei de direito. (...)
Defendeu e favoreceu muito os lavradores, a que chamou nervos da terra e do reino (...). E nas coisas de sua fazenda e casa foi sobre todos o mais provido e solícito, (...); por isso se fez rei de grandes tesouros, porque as gentes do reino foram também em seu tempo mui ricas; e fez muitas leis por bem e regimento da terra. Muitos senhores de nações diversas vinham à sua Corte para o ver. (...)
Acumulou tesouros intensificando a colonização dos reguengos, recuperando os foros do rei, esbulhados pela nobreza e pelo clero.
D. Dinis ficou duradouramente no imaginário popular. Nas Cortes de Évora de 1481 os povos declaravam que, sem a sua acção, a Igreja seria dona de todo o Portugal. (...)»
António Borges Coelho, História de Portugal, Vol. II
[Mas nesse tempo a bebedeira épica era já crónica. Tomara conta das elites aventureiras e cúpidas, e as elites guardariam o país para seu serviço durante muito tempo. Ainda hoje, é só olhar e ver!].