Clara Ferreira Alves deu à luz Estado de Guerra, há-de haver um ano. É uma colectânea de vários anos de crónicas, de proveito e muito bom exemplo. São sempre desassombradas, não sofrem da irrelevância umbiguista frequente em escribas muito consagrados e são servidas por um discurso honesto e claro. Aqui e ali perpassa nalgumas delas uma aragem pedante e um cosmopolitismo com seu quê de possidónio. Mas isso é um pecado venial dos portugueses todos.
A páginas tantas, achava-se ela na redacção da Revista do Expresso, quando desabou o muro de Berlim. «Passados uns meses fui a Berlim. Atravessar a cidade do Ku'damm à Berliner Alexanderplatz, atravessar a porta de Brandeburgo e entrar em Unter den Linden, olhar a Ópera, a Universidade Humboldt, o Hotel Adlon. Ver Berlim aberta (...)»
Mas onde é que esta mulher foi descobrir o Hotel Adlon, em Berlim de 1990?!