domingo, 24 de dezembro de 2017

Pregarias

Nesse tempo as forjas dos ferreiros temperavam o ferro, e desenhavam com ele as formas que eram precisas. Mas não o fabricavam. Isso era feito em fábricas de longe.
O Victorino era da terra quente, e levava pregarias aos mercados. Das Freixedas à Meda não faltava a nenhum. E nessas andanças arrumava o macho no quinteiro da Cândida do Zé André. Foi o primeiro passo para o casamento.
Mas um dia a Cândidinha morreu, diz-se que ele lhe deu um chá, já se tem visto. Como não havia herdeiros, ao viúvo coube o património.
Aqui na aldeia, com casa estabelecida, o Zé Ribeiro vendia pregarias que recebia do Porto. E com ele se entendeu o Victorino, juntando a fome com a vontade de comer. Foi o primeiro passo para o segundo casamento, desta vez com a Carmina, que acabou por ser a mãe dos Crespos todos. 
Um dia vai ela ao Porto, pagar aos armazéns. E bem a avisaram as sibilas: ai dona Carmina, que anda lá tão ruim a pneumónica! - Eu dou-lhe com a carteira!
E terá dado, mas a pneumónica foi mais despachada. Ela é que já não voltou.
Para bem do Victorino, chegou aqui mais tarde a morgada do Azevo, trazida por umas tias, para uma casa que era um paraíso. E nela se instalou o Victorino, onde lhe nasceu mais uma filha que foi viver para Viseu.
Depois disso achou ele que era altura de erguer um jazigo da família. Mas não sei se está lá dentro.