Dás um trabalhão ao leitor, sabes António? Agora tás na quinta da infância, logo após tás em Luanda à espera da ponte aérea, a seguir já tás em Ninda, na baixa do Cassange, ou num baixo suburbano de Lisboa, ou nas tias da Barata Salgueiro, ou a guardar o Camões fechado num caixão ...Ao menos o pai natal tratou-te bem?
"De maneira que ficaram à espera no vestíbulo diante do alarido do tojo e dos ralos de agosto: a mulata e o garoto completamente mudos, arqueados e quietos na escuridão que crescia, medindo tudo, verificando tudo, espiolhando tudo, as centopeias sem rumo, os escaravelhos mortos, as lagartixas átonas nos relevos do tecto, a noite e a via láctea dos candeeiros do Martim Moniz que nenhum dedo desfia, e eu, branco de Coruche sem instintos nem mistério, demasiado afastado dos castanheiros da infância, a cismar no dinheiro do indiano e na forma de roubá-lo, ouvindo passos e cicios e arrastar de baús, lembrando-me do meu avô a tactear o sol das três da tarde com a bengala até que a voz do senhor Francisco Xavier proclamou, à medida que as sandálias bolorentas se avizinhavam de novo, Arranjei-lhes um quarto com mais oito famíulias de Angola, reparem na vossa sorte, caneco, tudo conterrânea, tudo solidário, tudo compincha, tudo no paleio, que é dos cinco contitos, ó sócio? (...)"