Há muitos anos, no Porto, fiz trabalho voluntário no armazém do Banco Alimentar, ali a Perafita. Ainda acreditava em gambozinos, pus-me a jeito.
O armazém recebia camiões de latas (tomate, frutas e leguminosas) que chegavam de Alcobaça. E sempre que uma lata era maltratada na cadeia de enchimento, acabava rejeitada.
A empresa disponibilizava todo esse material, que lhe aligeirava os impostos. Por isso o levavam a Perafita.
Logo à entrada do grande portão do hangar havia o Tarrafal. Era um espaço murado de alta rede, onde iam parar estes e outros donativos. Que só eram postos à disposição das instituições consumidoras quando eram libertados pelo responsável do Tarrafal.
Encostadas à altíssima parede, empilhavam-se paletes de embalagens que aguardavam a triagem. Mas numa manhã, um dia...
Não sei donde me chegou a inspiração. Parei o trabalho, saí do Tarrafal, e fui ter com a máquina de café que estava lá ao fundo, num desvão.
A certa altura ouviu-se um terramoto, um sobressalto, o que foi, o que não foi... Era uma rima de paletes de 500 kgs que tinha desabado, mesmo no sítio em que eu estava a trabalhar.
Olhei para aquilo, falei com o Vasco António, e nunca mais entrei no Tarrafal. Ofereci-me como leitor, na sonora de São Lázaro. Em boa hora!