Outono
Caem as folhas. Devagar. Aplicadas. Mas isso nem é o pior. Caem, também, os livros dos amigos na caixa do correio.
Trazem um abraço, às vezes beijos, e mesmo algum (sim, nunca fiando) protesto de amizade. Depois, pelas entrelinhas (falo ainda da dedicatória), a lembrança de quão agradável leitor vou ser.
Gosto do Outono. Mas não assim. Para ler os amigos, roubo no cinema, roubo no sono, roubo na preguiça. Chego à Primavera lido mas definhado. Houve momentos de suave aperto, de doce amargura. Mas pouco ri, muito pouco, não é mal lembrá-lo.
Os amigos não têm piedade. E, hão-de ver, para o ano voltarão, os sacanas, como se nada tivessem conseguido.
Fernando Venâncio