Há muitos anos, quando abriram a estrada nova, que do Largo seguia para Norte, para a Senhora da Cabeça, para Penedono e Lamego, vieram aí para a aldeia uns técnicos das obras. À falta de melhor chamaram-lhe fiscais. E um deles terá lançado os olhos às moças que punham roupa a corar nas lajas da fontana.
Uma delas era a Fátima, da numerosa ninhada do Vasco das Neves, a outra era filha do Zé Barbeiro e chamava-se Lurdes.
Que beberagem deram elas ao fiscal não o sabemos hoje, e já cá não anda a Gracinda do Casimiro, esse Fernão Lopes dos tempos medievais. Sabemos só que o pobre do fiscal morreu a expelir da boca uns vermes esquisitos. E ontem foi a enterrar a Fátima do Vasco.
Tinha um bisneto a cargo, um rapazola duns dezoito anos, ninguém sabe quem cuidava mais de quem; se o Miguel da bisavó, se a bisavó do Miguel. Davam a mão um ao outro.
A mãe do rapazola foi levada pela heroína, uma coisa que entrou aí no mercado para salvação dos pobres.
Eu não sei o que vai ser da vida do Miguel, nem lho pude perguntar. Vinha num comboio que chegou atrasado ao funeral, e eu tinha mais que fazer.