A austeridade que estas elites bastardas inventaram para responder à crise financeira que a América produziu, aliada à multímoda corrupção interna (a própria e a induzida), transformaram a Grécia numa tragédia humanitária. Em seis anos a economia contraiu 25%; o desemprego vai em 25% da população activa; 60% da juventude grega não tem qualquer perspectiva de vida e de futuro; e a hidra da dívida atingiu valores incomportáveis, que uma economia em ruínas não tem qualquer hipótese de pagar.
Para garantir a confiança dos credores, à Grécia falta apenas vender a Pitonisa a uma casa de alterne de Roterdão; e as colunas do Parténon a um museu de Berlim; e o Peloponeso inteiro a um empresário flamengo; e as tíbias de Platão a um banqueiro da City.
Entre a espada e a parede, os gregos responderam às elites com as armas que ainda detinham: elegeram o Siryza, repudiaram a troika, exigem outras políticas.
Mas pôr em causa a ordem estabelecida é desde há muito a hybris da tragédia. O FMI, o BCE, a Comissão, o Eurogrupo, a troika, o Draghi, o Juncker, a Lagarde, a Merkel e todos os fariseus calvinistas, o Cavaco, o Coelho e os seus sipaios, a ministra dos SWAPS, os papagaios analistas e comentadores e especialistas avulsos... toda essa gente sabe muito bem que a política aplicada na Grécia levou o país a um ponto de não-retorno. E outros há que estão na lista, com Portugal à cabeça.
Por isso nenhum deles tolera o exemplo grego, nem o seu governo de aventureiros que não aceitam gravata nem cabresto. Em face do Portugal que aí está, todos eles podem limpar as mãozinhas à parede. Mas transformam o país num mítico modelo de sucesso, porque todos esses fariseus querem salvar a face, se não for antes preservar o coiro.
Só que, conforme os gregos ensinaram há séculos, tudo o que tem que ser tem muita força.