quarta-feira, 12 de abril de 2017

Augusto

Há muitos anos, era ainda um fedelho, o Augusto esteve de paquete na quinta do Forcas. E um dia vinha em cima do cavalo, a tocar umas vacas que recolhiam a casa. Depois viu a camioneta que descia a ladeira e bem puxou o cabresto ao animal. Mas o alma do diabo espantou-se e o Augusto foi parar ao fundo da ribanceira, com uma perna estracinhada.
Os médicos salvaram-no do pior, puseram-lhe na perna umas talas de cartão com um peso de balança pendurado. Tempos depois, quando tiraram o peso, o pé trambolhou para o lado como se estivesse morto. Operaram-no e os ossos lá colaram, mas a perna ficou curta.
Anos mais tarde o Augusto foi parar a França, à procura de trabalho. E passou lá muitos anos, a assentar tijolos e a reconstruir a vida. Mas custava-lhe muito a perna curta. Nas férias do Verão ia-se ao endireita, a ver se acalmava as dores. Ele encostava-o à parede, espetava-lhe a testa nos costados e fazia ranger aquilo tudo.
Até que um dia o médico francês lhe mandou fazer uma bota ortopédica. O Augusto acostumou-se à gáspea mais grossa e tem passado melhor. Um dia acertou na tabuada inteira do loto, que ainda não havia em Portugal, e assim resolveu boa parte dos seus padecimentos.
Agora bebe sumos que vêm da América, a conselho do médico que lhe proibiu o vinho. Mas lá vai andando enquanto deus mandar.