" (...) Tóquio era uma concentração milenar de bambu e madeira. Chamavam-lhe a cidade de papel. Os B-29 destruíram 25 quilómetros quadrados de território, matando mais de 80 mil civis e deixando aproximadamente um milhão de pessoas sem abrigo. O inferno escaldante fez os canais ferverem, os metais derreterem e as pessoas explodirem expontaneamente em chamas. O fedor da carne queimada foi tão forte que os membros das equipas vomitaram nos seus aviões. O raide de Tóquio ficaria conhecido como a obra-prima de LeMay. (...)"
" (...) Quando Truman e Byrnes, agora secretário de estado, se reuniram com Estaline e Churchill para a mais importante conferência da Segunda Guerra Mundial, em Postdam, um subúrbio de Berlim, aguardavam notícias sobre o teste atómico secreto no deserto de Alamogordo.
Truman adiara por duas semanas o início da cimeira, para meados de Julho, e esperava que a bomba fosse testada antes do início das negociações com Estaline. No deserto, Robert Oppenheimer contou: "Estávamos sob uma pressão incrível para fazermos os testes antes da reunião de Potsdam." Na perspectiva de Truman, valeu a pena a espera. (...) todas as expectativas foram superadas. Alguns cientistas até temeram ter incendiado a atmosfera. (...)"
A 6 de Agosto de 1945, o presidente Truman dirigiu-se à nação: "Há pouco tempo, um avião norte-americano lançou uma bomba sobre Hiroshima e destruiu a sua utilidade para o inimigo. (...) Os japonesees iniciaram a guerra aérea sobre Pearl Harbour. Pagámos-lhes com juros. E o final ainda não está à vista. (...) É uma bomba atómica. Vamos destruir-lhes as docas, as fábricas e as comunicações. Não haja dúvidas quanto a isso - vamos destruir completamente a capacidade do Japão para a guerra" (...)
" (...) O general-brigadeito Leslie Grooves também admitiu que, na sua ideia, a Rússia fora sempre o inimigo. "A partir de duas semanas de ter admitido a direcção deste projecto [Alamogordo], deixei de ter ilusões de que o verdadeiro inimigo era a Rússia, e o projecto foi conduzido com essa premissa de base. (...)"
" (...) Para o povo, o imperador era uma figura sagrada e o centro da sua religião xintoísta. Vê-lo enforcado como Mussolini na Itália, ou humilhado num tribunal de guerra, era mais do que eles aguentariam. O comando de MacArthur relatou: Para eles, enforcar o imperador correspondia, para nós, a crucificar Cristo. Todos lutariam até à morte como formigas. (...)"
" (...) Seis dos oficiais de cinco estrelas dos EUA, que receberam a sua última estrela na 2ª Guerra Mundial - os gen. MacArthur, Eisenhower, Arnold e os almirantes Leahy, King e Nimitz - declararam que a bomba era moralmente repreensível e militarmente desnecessária, ou ambas. (...)"
" (...) A oposição ao lançamento da bomba era suficientemente conhecida, para Grooves ter de obrigar todos os comandantes norte-americanos no terreno a fazer passar todas as suas declarações sobre a bomba pelo Departamento de Guerra. "Não queríamos que MacArthur e os outros dissessem que a guerra podia ter sido ganha sem a bomba", admitiu mais tarde. (...)"
" (...) O avião, agora a quase 15 kms de distância, sofreu com a violência da onda de choque. A bola de fogo expandiu-se, envolvendo o centro denso e populoso da cidade, com o seu calor e uma explosão intensos a destruírem os edifícios e a queimarem todos os escombros. A bomba destruiu por completo uma circunferência com um raio de 1,2 quilómetros. Uma hora e meia mais tarde, a quase 650 kms de distância, a tripulação pode olhar para trás e ver ainda a nuvem em forma de cogumelo a erguer-se a 12 kms de altura ou mais.
No hipocentro, onde as temperaturas alcançaram praticamente os três mil graus, a bola de fogo "assou" as pessoas até se transformarem em "rolos de carvão negro e fumegante numa fracção de segundo, enquanto os seus órgãos internos se desfizeram". Dezenas de milhares de pessoas foram mortas instantaneamente. Estima-se que 140 mil morreram até ao final do ano e 200 mil tinham morrido em 1950.
Os EUA relataram a morte de apenas 3243 tropas japonesas. Entre as baixas contavam-se 23 prisioneiros de guerra norte-americanos, alguns dos quais sobreviveram à explosão para depois serem espancados até à morte pelos sobreviventes da bomba.
Quando recebeu a notícia de que a bomba explodira em Hiroshima, Truman, a bordo do Augusta, afirmou: "Isto é a coisa mais fantástica da História. (...)."
Nessa manhã de 9 de Agosto, os EUA lançaram a sua segunda bomba - uma bomba de plutónio implosivo, baptizada de "Fat Man" - sobre a cidade de Nagasaki. Ironicamente, a bomba explodiu sobre a maior catedral católica na Ásia, com uma força de 22 quilotoneladas; 40 mil pessoas morreram de imediato. Destas, 250 eram soldados. (...)".
A bomba da boa América foi um crime de guerra clamoroso, com responsáveis perfeitamente identificados. Ficou impune até hoje.