Julho 2006: "Agora, setenta e cinco anos mais tarde, na sociedade da abundância, onde as pessoas têm portáteis, telemóveis, iPod's, e mentes que parecem quartos vazios, eu prefiro teimosamente os livros."
Este romance interessantíssimo foi a única obra publicada pela autora, em 1960. Recusou também proferir conferências ou conceder entrevistas. Apreciava mais a solidão e os livros.
A matéria narrada é um mergulho na meninice da autora, uma maria-rapaz, e na sociedade americana de meados do século passado, numa pequena cidade do Alabama. E, de caminho, na natureza profunda do racismo americano (hoje em dia particularmente activo e visível por razões conjunturais).
Órfã de mãe muito cedo, a Scout e o irmão Jem, um pouco mais velho, vivem com o pai, o Atticus, advogado tolerante e lúcido, e amigo dos pretos. Essa era a fama que tinha na cidade. O estratagema permite-nos acompanhar a evolução da educação juvenil americana, e compará-la com a nossa desse tempo (os que se lembram dela).
À medida que cresce a narradora, modifica-se a sua linguagem, a capacidade de observação e análise, e a elaboração mental. Pode dizer-se que aquilo que o discurso perde em frescura e garridice, isso mesmo se ganha em profundidade.
A peripécia final do tribunal de júri, que condena impiedosamente um negro inocente (porque essa é a ordem natural das coisas!) é a imagem persistente da América mais profunda.
Uma pérola da literatura!