domingo, 7 de maio de 2017

Líricas

 
 (Soneto XIII de Manuel Maria Barbosa du Bocage, nascido em Setúbal em 1765. Faz parte das suas Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas).
 
É pau, é rei dos paus, não marmeleiro,
bem que duas gamboas lhe lobrigo;
dá leite, sem ser árvore de figo,
da glande o fruto tem, sem ser sobreiro;
 
Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
oco, qual sabugueiro, tem o umbigo;
brando às vezes, qual vime, está consigo;
outras vezes mais rijo que um pinheiro;
 
À roda da raiz produz carqueja;
todo o resto do tronco é calvo e nu;
nem cedro, nem pau-santo mais negreja!
 
Para carvalho ser falta-lhe um u;
adivinhem agora que pau seja,
e quem adivinhar meta-o no cu.