quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Anubis

Para quem ainda não vive na gaveta dum jazigo (é muito mais fácil isso acontecer do que parece!), há sempre uma surpresa. Aconteceu-me isso ao descobrir Anubis nas mãos dum amigo.

«Na Guarda não abundam as messes. Há que ser um insecto para sobreviver na região. À formiga artista chamo de mirmidão.
Há muito mirmidões espalhados por aqui, cada qual com seu mérito. Américo Rodrigues desenvolve trabalhos dum modo aberto, e apoia aos mirmidões da cidade. Para mim ele tornou-se uma espécie de estandarte da viragem do século, sem querer eu desconsiderar os que contribuíram servindo de inspiração.
Da minha parte, sempre me senti como um escaravelho; tento rebolar com o meu pequeno globo de modo independente, na intimidade dos mais próximos. E é o que pretendo continuar a fazer.
Com estas palavras gostaria de deixar patente o reconhecimento pela colecta cultural que tem sido deduzida na Guarda, ao longo dos últimos vinte anos (tenho 34), através de muitas formigas; algumas agora vivem fora, outras suspenderam a actividade, outras insolveram... 
Tal colecta pode perigar pela dispersão de tão pequena (mas bem enraizada) comunidade.»

79 - bis infinito
1 - como um cão não pode
deixar de ser cão, como um gato
deixar de ser gato: assim o galo 
de galo, e o cão ladra de maneira
respeitável, e o gato mia adoravelmente; 
já o galo garatuja como gatafunha:
lê-lo uma vez é lê-lo todas, vê-lo
uma vez é vê-lo todas.

2 - leva-lhe galinhas
e tas galará, choca seus ovos
e receberás pintainhos saltitando
entre conversas infantis sem
outras ambições que um bis
infinito, os cães serão sempre
cães, os gatos gatos; e o galo não
cessará de cucuricar quantas 
vezes lhe apetecer da única
maneira que sabe fazer.

(Rodrigo Coelho dos Santos)