No meio do lixo tóxico com que o mercado editorial nos vai adormecendo, a editora Tinta da China surpreende-nos muitas vezes pela positiva.
Os seus livros são objectos esteticamente irrepreensíveis, a sua qualidade literária é por norma notável, e as traduções, quando existem, são sem mancha.
Kaminer é um autor russo que nos oferece aqui o humor, a ironia e o sarcasmo frequentes na sua terra. Depois da queda do muro de Berlim, depois que os crimes, e os erros, e as contradições de Moscovo fecharam a porta a esperanças antigas e nos sepultaram onde estamos, não há nada como rir. Pelo menos gozar com isto tudo é mais saudável do que a depressão.
Logo que a possibilidade se lhe abriu, o narrador tratou de conhecer o mundo, tratou de conhecer a sua própria terra. E se não era possível fazê-lo pessoalmente, era-o por interposto viajante. E assim nos mostra Paris, a América, a Crimeia, a Dinamarca, a Sibéria... enquanto se diverte e nos encanta com o burlesco da vida do socialismo real e do capitalismo triunfante. Não falta lá nenhum dos clichés, nenhum dos lugares comuns.
Viagem a Tralalá, pois onde havia de ser?!