A casita era mais baixa, hoje nem parece a mesma. Tinha uma escada interior e uma cozinha de lastro. A lenha vinha da aldeia ao lombo da marquesa, e eu vivi nela seis meses de transição num colégio particular, quando deixei para trás o Cícero das Catilinárias e entrei no mundo profano.
A alma doce da minha avó materna fazia-me a comida, e a dona Adriana pôs-me em dia com as ciências naturais, que eu não tinha no currículo.
O Crespo tinha então, lá fora da muralha, uma construção anexa onde guardava um cavalo. Hoje transformaram-na em garagem, e o povo guarda lá dentro audis e beémes de barriga apodrecida pelo sal das estradas da Europa. Mas enquanto foi uma estrebaria, o doutor precisava dum palafreneiro. E eu servia às mil maravilhas.
Então disse-lhe o meu pai a única palavra certa duma vida: o rapaz diz que quer escrever livros!
O doutor achou que o mundo estava perdido. E o cavalo ficou sem palafreneiro.