A fidalguia bebeu sempre do fino, não punha à mesa esses vinhotes palhetos sem terroir. Por isso o solar tinha em Fontelas, vizinha da Régua, uma vinha de benefício.
Ele mesmo foi feito por etapas, visíveis na fachada. Ainda conheci o conde velho, que só teve direito a honras e acedeu à condesia através do casamento com a condessa, vinda de longe.
Mas um dia ela morreu e o conde velho só se via na missa, em lugar próprio, ou quando passava na rua debaixo da boina basca.
Muito antes o irmão do conde passou aqui uns meses. E, num simulacro de direito de pernada, tratou de fazer um filho numa criada. Veio a nascer o Firmino, que havia de ter no solar trabalho e salário certo. Ocupava-se da cerca e dos jardins, e isso era um privilégio raro, num tempo e num lugar em que isso era impensável.
Um dia, ainda cachopo, subi a escadaria, entrei no solar e vi o preto de pau, à entrada do salão dele. Mas há uns anos uma tropa de meliantes veio aí, numa noite de chuva, trouxe uma camioneta, e não ficou nada dentro do solar. Nem o preto da carapinha.
Agora o conde novo, homem de indústrias, quando aqui passa recusa-se a ir lá dentro.