(Cont.)
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Nas
pradarias do Nebraska e do Dakota chegara o tempo das sementeiras. Monstros de
aço, barulhentos como a rebentação do mar, andavam por aqui e por ali, sobre a
lavrada, e faziam longos sulcos regulares. A maior parte das narcejas evitava
as ruidosas máquinas e os homens que as conduziam. Pilritos-das-praias e
pernas-amarelas interrompiam a busca de alimento e ficavam alerta, quando o
lavrador estava ainda a cem metros de distância. À aproximação da máquina
levantavam voo, gritavam estridentemente e fugiam. E só voltavam a poisar
quando ela estivesse lá longe, a quilómetro e meio de distância. Mas os
maçaricões-esquimós não manifestavam qualquer receio. Ao longo da história do
seu desenvolvimento, a espécie aprendera que não tinha necessidade de reacções
complexas de medo. Possuía asas fortes e voo rápido. Os maçaricões podiam
simplesmente ignorar um perigo ameaçador, pois escapavam com facilidade a uma
raposa ou a uma ave de rapina, no último momento. Por esse motivo desaparecera
a reacção de medo, como acontece a cada capacidade e a cada instinto que ficam
sem utilização. Os pilritos confiavam numa apertada vigilância, e os maçaricões
na força das suas asas.
Por isso
seguiam de perto as ribombantes máquinas. Ao lavrar, elas punham a descoberto o
rico alimento que constituíam as minhocas brancas e as lagartas.
Ao longo
deste tempo, as gónadas tinham aumentado a secreção, de acordo com o ritmo
fisiológico anual. O seu desenvolvimento estava exactamente adaptado à
velocidade de deslocamento da Primavera para Norte. Tanto os seus corpos como a
tundra deviam estar simultaneamente preparados para a construção do ninho e a
postura dos ovos. A Primavera era cada vez mais perceptível, aproximava-se do
seu ponto alto, e com isso também as emoções das aves eram cada vez mais
impetuosas. Com as altas temperaturas do corpo e os rápidos processos
metabólicos, elas vivem, aliás, mais depressa e mais intensamente do que todas
as outras criaturas. E, do mesmo modo, quando a época de acasalamento se
aproxima, fazem a corte e amam com ardor e paixão mais agitados.
Agora o
macho extravasava muitas vezes por dia os seus sentimentos, mostrava o seu amor
à fêmea. A sua corte era agora muito mais impetuosa do que antes. Atirava-se de
súbito para o ar, agitava as asas e cantava a sua clara e vibrante canção
nupcial. Esta era mais melodiosa e doce do que em qualquer outra época do ano.
Alguns segundos após, batia violentamente as asas e subia quase na vertical,
arrastando as longas pernas, até atingir umas centenas de metros sobre a
pradaria. Aí batia as asas e cantava de novo, para que a fêmea ouvisse,
enquanto ela gorjeava e saltitava, excitada. Depois deixava-se cair de encontro
a ela, recuperava baixo, subia de novo, e poisava finalmente a alguns metros de
distância.
Ele
arfava de excitação, cantava alto, respirava profundamente fazendo inchar o
pescoço e o peito, tufava a plumagem e estendia as asas, gracioso, sobre o
dorso, até a fêmea o convidar a aproximar-se. Ela saltitava, de asas frementes,
e fazia ecoar o penetrante apelo com que pedem alimento as crias que mal começam
a voar. Ele avançava para ela, cerimonioso, de novo batendo fortemente as asas,
quase parecia que andava pelo ar. Peito inchado contra peito inchado, o macho
estendia o pescoço e alisava-lhe ternamente as penas castanhas, com o longo
bico.
Isso
durava alguns segundos, depois o macho afastava-se. Procurava uma minhoca,
regressava junto da fêmea e colocava-lha suavemente no bico. Ela engolia-a. E
as penas do pescoço ficavam de novo lisas, as asas paravam de tremer, tudo
tinha passado. Até agora, este gesto de ser alimentado constituía o ponto alto
do seu amor. Os corpos não estavam ainda prontos para o acasalamento.(Cont.)