segunda-feira, 19 de maio de 2014

O meu avô andou na guerra

O título é belíssimo, embora enganador. Porque quem conta é o avô e não o neto. Este é apenas o destinatário dum relato sobre o que foi a guerra colonial, onde o seu avô andou.
O mercado está mais ou menos cheio de histórias da guerra, de valor histórico e literário variado e discutível. O que este nos traz de inovador e de útil é que não fala da guerra. Não contém heroicidades nem celebra epopeias de papel. Mas oferece uma perspectiva incomum, que é a da entrada de seiscentos futricas nas fileiras do exército, e as peripécias da formação dum batalhão que irá servir a pátria num sertão. É isto que este neto nunca teria a sorte de conhecer, senão através do relato deste avô.
Depois é chegar a um cu-de-judas no centro de Cabinda, (onde nada existe além de ruínas de antigas explorações de madeiras e duns resquícios de vida comercial desaparecida desde as chacinas de 61), fazer daquilo um quartel, derreter por lá setecentos e tal dias da curta vida, e regressar a Portugal no mesmo paquete Vera Cruz, aliviado dumas dezenas de baixas que faltaram ao embarque.
"A partir de agora é só mais um esforço para continuar a andar por aí, a ler histórias de fadas, princesas e lobos-maus aos netos. E quando eles perceberem que não existem fadas nem princesas - lobos-maus nunca se sabe - contar-lhes que o avô andou na guerra".