O discurso histórico outra coisa não é senão a narrativa das elites, àcerca das matérias de que é feita a vida das colectividades humanas. E sabemos muito bem que, no discurso sobre a história, o mito ocupa o lugar da realidade, sempre que isso serve o interesse das elites que o produzem.
Em 1415, com a malfadada ida a Ceuta, teve lugar em Portugal a primeira "rapaziada de corte". Há-de parecer uma expressão sacrílega, a ouvidos ditos "patriotas". Porém, bem esmiuçada a coisa, a ida a Ceuta foi o primeiro passo dum enorme engano que viria a transformar os portugueses em gado de exportação. Ao longo de séculos de peripécias que apenas serviram uma estreita fidalguia indígena e os interesses de Roma.
Mas as elites depressa substituíram a realidade pelo mito. E Ceuta ficou a ser, no discurso sobre a história, o início da nossa "gesta gloriosa". Ainda hoje assim é, na boca dos geradores de equívocos amargos. Conforme se pode ver, neste crepúsculo a que outra "rapaziada" nos levou.