sexta-feira, 16 de maio de 2014

O Albertino

Alcança-se Folgosinho depois de muitas curvas, serra acima, e logo se vai dar ao Adro de Viriato, o vingador da traição de Alba. Com razão ou sem ela, os celtiberos da terra consideram-no seu filho, guardam-lhe uma estátua num jardim e lá saberão que traições aqui houve, e que vinganças. O visitante não sabe, nem tem agora tempo de ir averiguar.
O povoado está encostado à serra, montado num espigão a meia encosta, cercado de castanheiros, e moitas de carvalhos, e tapetes de maias amarelas. É um lugar retirado, por isso o procuraram os judeus em tempos de escuridão. De inverno enovela-se em si mesmo, a proteger-se das neves. Mas nesta altura do ano assume o privilégio da paisagem, e abre-se aos longes de Linhares, de Celorico, de Fornos, de Trancoso a diluir-se já no horizonte, de Viseu indistinto nas tremulinas do Dão, do Caramulo a perder-se lá para os lados do mar.  
Na capela do Senhor São Faustino está um São Sebastião estropiado, que perdeu pedaços no martírio. E a deslado, num afloramento de quartzo, fizeram esta alcáçova que ainda chamam castelo, para a torre do relógio. 
Ao meio dia o sino põe-se a dar horas e assusta o visitante, que aproveita o sobressalto e já se põe a mexer, porque estão a chegar os autocarros. Trazem revoadas de comensais que vêm à procura dos pitéus do Albertino.
Quando voltou das guerras da Guiné, há meio século, herdou da mãe uma taberna caída na ruína, por causa dos calotes dos clientes que bebiam sem pagar, que não havia dinheiros. Agora o Albertino não tem mãos a medir, e as excursões de turistas não o largam.