Eu achei bem, o Documento Único Automóvel! Menos papéis, menos burocracia... De forma que lá fui, à Loja do Cidadão, a renovar a velha papelada dum panzer que ali tenho há muitos anos. Um dia chegou-me no correio o documento novo.
Do meu discreto e recolhido amigo, saíra um descapotável mundano e ostensivo. A tara avantajada perdera setenta quilos. Os pneumáticos, de viajante comum, passaram às dimensões dum pégaso de fórmula. A cor original, que era vermelha, desbotou num cinzento penitente. E a data da matrícula rejuvenesceu um ano.
Eu lá voltei, à Loja, a reclamar. E bem argumentei que conquistei Malaca, que tenho as côngruas em dia, que sou, afinal, um cidadão da casa!... Nenhuma façanha minha os comoveu. Fiquei dono dum veículo martelado, e só no Instituto da Mobilidade mo podiam salvar.
É no que dá, sonhar com modernidades numa terra de bêbados! Ainda congeminei em voltar ao passado, em regressar a Malaca. Mas optei por arranjar um atestado falso, e ir gastar um dia à Direcção Geral. Duma penada alinho-me com a história, e talvez resgate o couraçado do parque da sucata.