A encerrar Ruben A., O Mundo à Minha Procura I, 1966:
(...) Infelizmente a mesquinhice, aliada à mediocridade, é uma das bitolas por que nos regemos. Temos uma cordialidade de abraço, com um vislumbre traiçoeiro no aperto de mão suado. É um tipo de afecto para primeiras impressões, diferente da fria cordialidade nórdica que, sem aparências nem exibicionismos, é actuante e de boa fé.
(...) E o que é ainda mais estranho é pensar que o português saído do seu solo, habitando terra alheia, clima inóspito, brilha como ninguém, brilha a uma craveira notável em que todas as suas qualidades de homem se oportunam. Esta a nossa tragédia: para sermos grandes, ou precisamos de ir para o estrangeiro, ou de morrer. E, já depois de morto, continuar a esperar. Haja em vista o caso de Fernando Pessoa, isto para não falar da poesia de Camões...
(...) No entanto nunca se mata, porque matar - como nos povos espanhol e inglês - já exigia uma grandeza, um Shakespeare, um Siglo de Oro, e isso é-nos alheio. A grandeza humana vive à margem dos nossos sentimentos, é coisa de livros, impenetrável à camada de surro de que nos é difícil despojar. (...)