A fábrica original das viaturas Porsche, que arregalam os olhos dos nossos patrões, nasce num vão de escada da Europa Central, antes do fim do séc. XIX. Alguém ali começou a apertar parafusos, a afeiçoar os perfis na bigorna, enquanto ia sonhando com o futuro e aos poucos o construía. O resto, que é espírito inventivo feito de persistências e contabilidades, é a história que o ensina.
Vem isto a propósito dum inquérito europeu, do ano de 2002, em que dois terços dos portugueses atribuem a pobreza a factores como a má sorte, o destino fatalista, ou a preguiça dos pobres. Foi a um tal estado de superstição alienada que uma história de vagamundos nos condenou. Confusamente nos queixamos da economia, mas não saímos daí.
Os nossos empresários de sucesso lembram-se bem do cheiro da canela. E sabem há muito tempo que a especulação dá maiores dividendos do que a geração de mais-valias. Por isso especulam no imobiliário, construindo habitações que ficam devolutas. Por isso especulam nas finanças, multiplicando riquezas de papel. Por isso especulam na distribuição, comprando e vendendo rabanetes. São os deuses da nossa economia, mas valor acrescentado não é com eles.
E é com vénia às possíveis excepções, que rendo aqui homenagens a Azinhais Nabeiro. Começou, há muitos anos, a matar a fome com cargas de contrabando em cima dos costados. Levava café dos outros. E foi investindo o que apurava no sonho do seu próprio café.
Hoje dá de comer a um concelho inteiro, resiste aos italianos, e dá-nos as lições que não tomamos. Ele merece ser doutor honoris causa. Nós, quem sabe, merecemos a pobreza.