quarta-feira, 28 de maio de 2008

Deus-ex-machina?

E não vem isto no mapa, que faria se viesse?!
Se o município, rural e deprimido, tiver oito mil habitantes, já é muito. Funcionários municipais são trezentos e cinquenta. Destaca-se, entre todos, o presidente da câmara, que o foi há uns anos, e acabou finalmente condenado a seis anos de prisão. Por corrupção passiva e branqueamento de capitais, por abuso de poder e peculato. Por uma vida à grande e à francesa, dizemos nós, levados no tropismo, quando devíamos dizê-la à portuguesa. Só num ano pagou o fundo permanente da autarquia 74 contos de despesa, por cada dia útil. Que o homem corria mundo ao serviço dos munícipes.
Ele era o Gigi, o Pap'açorda, o Ritz, o Sheraton, a Quinta das Lágrimas em Coimbra, O Baía Cabrália Hotel no Brasil, um Cumulus Oulu finlandês, a Pen Shop de Londres, a Royal Copenhagen, a Franz Schulz de Oslo, a Macy's nova-iorquina, as pousadas do Pestana, e até um maço de cigarros do Pedro dos Leitões foi parar ao fundo permanente. Foi o que apurou o tribunal.
Nós concluímos, num linguajar ingénuo, que ainda acontecem milagres na justiça. Por não nos darmos conta de que isto é apenas o primeiro andamento. O drama verdadeiro não há tribunal que o possa resolver. E os deus-ex-machina já os gastámos todos.