No meio do sertão surge um estanco, com ar de papelaria. E eu entro nele para comprar o Borda d'Água, que vislumbro no meio da colorida imprensa cor-de-rosa.
O dono oferece-me a raspadinha, promete o euromilhões. Respondo que nunca jogo. Mas na estante há uma surpresa extraviada, inesperada, essa pérola de imaginação da ficção narrativa do Afonso Cruz, Para Onde Vão os Guarda-Chuvas. Oxalá não ganhe bicho aqui.
Também se vende o CM, o jornal mais folheado em Portugal, sem dúvida porque é a maior estrumeira tóxica que existe na nossa imprensa. Mas o dono lê o JN, habituou-se a ele num café que há anos teve. E até agora nunca mais mudou.
Vende-se também queijo da Serra, mas do de cabra não há. Só no mercado semanal, duma velha que atura três cabras mochas e tem na horta um cardo para o coalho. O cardo dá flores bonitas, no Verão, muito bonitas. Que às vezes resistem aos pintassilgos.