domingo, 29 de setembro de 2013

Ilhéus

Sem que eu entenda porquê, nutro pelos ilhéus um particular afecto. E tanto aprecio Carlos César, como dirigente dos Açores - em quem vejo uma reserva do PS e desta outoniça república -  como desprezo o Alberto João, essa máscara teatral desta miséria trágica.
Filhos da fome, ainda mais que todos nós, os dos Açores levaram Portugal para o Massachussets, na costa leste dos Estados Unidos, no século XIX. Os madeirenses fizeram a mesma coisa para o Illinois. É de perguntar porquê estas diferenças.
O assunto anda por certo tratado com rigor pelos académicos. Mas eu prefiro as versões populares, que me poupam muito tempo, e paciência, e os delicados olhos.
Os baleeiros da costa leste da América, que fainavam o cachalote e a baleia no Atlântico, aportavam a algumas ilhas dos Açores. A dada altura começaram a embarcar ilhéus, como membros das equipagens. As elites nacionais, que sempre se alimentaram de sangue de escravos, combatiam esse tráfego. E havia mesmo uma ilha, e um local, onde os ilhéus saltavam duns rochedos, directamente para o convés americano. Nasceu aí a emigração a salto. Uns atraíram os outros, e é esta a origem da fixação açoreana na região de Newark.
Já na Madeira a situação é outra, embora a miséria fosse igual. Em meados do séc. XIX, um presbítero escocês, Robert Kalley, formou a primeira comunidade protestante na Madeira. E o tratamento papista não se fez esperar. O presbítero fugiu num barco inglês para salvar a pele, e a própria comunidade teve que fazer o mesmo. Na América viveu da caridade pública, até se fixar em Jacksonville, no Illinois, por razões aqui não destrinçáveis. 
A estes, outros vieram juntar-se, que as razões de emigração nunca faltaram. Para o Illinois, que já tinha rota aberta.