quarta-feira, 6 de maio de 2009

O futuro energético de Portugal

Com vénia ao dr. Luís Queirós
Presidente da Marktest e membro da ASPO Portugal

Quem participou, no passado dia 21 de Abril, na conferência sobre o futuro energético de Portugal, promovida pela CIP e pela Ordem dos Engenheiros no Museu da Electricidade em Lisboa, terá percebido que a situação energética no mundo é bastante mais preocupante do que os mais pessimistas poderiam imaginar.
Apoiado nas conclusões do World Energy Outlook de 2008, o representante da Agência Internacional de Energia disse da forma mais diplomática possível (leia-se, menos alarmista), que até 2030 vai ser preciso colocar em produção mais 40 milhões de barris de petróleo por dia, originários de novos projectos de exploração. Isto só para compensar as quebras que se prevêem nas grandes jazidas actualmente em produção. Ora a verdade é que ninguém sabe onde ir buscar esta imensa quantidade de crude, equivalente à actual produção da OPEP, ou à produção de quatro Arábias Sauditas. Será uma tarefa altamente improvável de levar a cabo, tendo em conta a dimensão do “buraco”. E tornada ainda mais difícil devido aos problemas financeiros da actual crise económica e do baixo preço do crude, uma vez que muitos projectos de exploração foram adiados, ou simplesmente cancelados.
A emissão de gases com efeito de estufa, responsáveis pelas alterações climáticas, é outro dos grandes problemas, e o cenário não podia ser mais negro. Aquilo que a Europa se propõe arduamente reduzir nos próximos 10 anos – desde hoje até 2020 - será menos do que as emissões que a China lançará para a atmosfera, nesse ano, nuns escassos 5 meses.
Mesmo com um moderado nível de crescimento económico de 2% ao ano, alcançar as metas programadas para 2050 significaria atingir, nessa data, um teor de carbono produzido não superior a 6 g de CO2 por cada dólar gasto. E esse é um valor altamente improvável, dado ser cento e trinta vezes inferior ao actual.
Também foi afirmado, na conferência, que a dependência energética externa da Europa, em gás natural, (a grande aposta para a produção de energia eléctrica), vai passar dos actuais 60 para 80%. Ora ninguém sabe muito bem donde esse gás poderá vir, se do Norte de África ou do Médio Oriente, já que o gás russo não chegará para todas as encomendas.
Valeu na circunstância a visão optimista e cornucopiana do actual ministro da Economia, para quem as renováveis são a panaceia que irá resolver todos os problemas. Mas tal visão foi arrasada pelo Eng. Mira Amaral, que falou em seguida. Sobre as energias renováveis, o antigo ministro referiu a confusão que é feita entre potência instalada e energia produzida. Falou do problema da intermitência, intrínseco às renováveis, e concluiu que em 2020, na melhor das hipóteses e a custos pouco competitivos, a energia eólica representará 4 ou 5% do total da energia utilizada em Portugal. Lamentou a forma pouco responsável como o governo de Guterres cancelou a barragem do Baixo Côa, e advogou um entendimento entre Portugal e Espanha sobre a energia nuclear.
Esta conferência veio consolidar a nossa convicção de que a questão energética está na base da actual crise económica e financeira. Sem energia barata e abundante, não será possível retomar o crescimento económico. Mas já estamos a viver o momento do “pico do petróleo”, que nos vai empurrando para um beco sem saída. E não parece provável, nestas condições, que a produção de petróleo no mundo alguma vez venha a ultrapassar a barreira dos 100 milhões de barris por dia.
Perspectiva-se um futuro de ciclos curtos de crescimento/depressão, associados a uma alternância no preço do petróleo. Ao verificar-se, uma retoma do crescimento impulsiona um aumento no consumo de crude. Mas isso fará aumentar o seu preço, devido à escassez da oferta. Segue-se nova diminuição do crescimento, num ciclo interminável e desgastante.
Apostar numa retoma keynesiana, segundo o modelo Obama, mesmo pela via verde (renováveis, sequestro do carbono, eficiência …) será ainda apostar no crescimento contínuo da economia. Mas não parece ser a via adequada, pois não conduzirá à saída do ciclo.
O crescimento e a prosperidade, baseados no consumo e no sucesso material dos últimos 50 anos, em que a economia mundial cresceu 5 vezes, é uma ideia completamente insustentável. E já está a minar os fundamentos para uma nova prosperidade, alicerçada numa visão menos materialista do progresso.
Teremos que assumir as consequências deste facto e enfrentar um desafio obrigatório: é necessário um novo tipo de sistema económico. E até, quem sabe, uma nova forma de organização social. Para que seja possível à humanidade prosperar num mundo com recursos finitos, e com uma fronteira ecológica já claramente perceptível à nossa frente.