quarta-feira, 27 de maio de 2009

LER ou não ler

Abre-se a LER para ouvir falar de livros. A contar com a garantia do contrato de prestação de serviços, com quem de livros fala por ofício. E dá-se com esta conversa de Francisco José Viegas:
Há uns meses, a LER publicou uma entrevista com A. M. Pires Cabral - de frente ou de costas para aquelas montanhas, a sua imagem é extravagante, inabitual. A sua poesia não é deste mundo - refere-se a coisas como o Marão, o Nordeste, palavras que ardem, palavras que se referem a coisas que vamos desconhecendo (arado, levandisca), terra que ardeu ou apenas ficou deserta: [transcreve-se poema de Cabral]
Uma poesia destas (Arado, edição Cotovia) não se festeja - observa-se como uma paisagem, um mapa perdido num manual de geografia.
Mas então que serviço é este? O que é que esta merda quer dizer?! O que é que um leitor que a não conheça, pode esperar da poesia de Cabral? O divulgador enaltece ou menoscaba? É isto um apontamento crítico, ou é arte de assinar o ponto, sem ter de gastar na tinta?
Há em Portugal uma diletância atávica, que dói e é fatal. E usa salamaleques e pauzinhos de incenso. E faz referências universais. E gesticula cosmopolitamente. Mas ocupar um espaço é-lhe um fim. Porque se esgota nisso.